História
50 anos de foguetes lançados no Cassino
Episódio coordenado pela Nasa na praia rio-grandina foi durante um eclipse solar total, durou quatro horas e foi acompanhado por milhares de pessoas
Fotos: Acervo Wagner Passos
O dia 12 deste mês marca os 50 anos do lançamento de 15 foguetes da Nasa na praia do Cassino, durante um eclipse total solar, verdadeiro acontecimento histórico acompanhado por milhares de pessoas e estampado nos jornais da época, em 1966. Nas páginas do Diário Popular, ainda no formato standart, dias antes as manchetes já chamavam os leitores para o que ia se passar na região. Foram quatro horas de espetáculo, a partir do meio-dia.
O lançamento no Cassino resultou de parceria entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil, e ocorreu em plena ditadura militar, utilizando o campo do Exército Brasileiro localizado na avenida Atlântica, entre o balneário Cassino e a Querência, como base para o lançamento de foguetes, segundo relato do cartunista Wagner Passos, a partir do que presenciou seu pai, o escritor Ivonei Peraça, na época com 12 anos.
Bagé foi o epicentro de observação do que seria o último eclipse solar total do século 20, gerando informações atmosféricas para embasar um projeto mais audacioso: a Missão Apollo, que em 1969 levaria o homem à Lua. Dias antes, o engenheiro da Nasa, Luiz Barata, membro da Comissão Nacional de Atividades Especiais (CNae), órgão do Conselho Nacional de Pesquisas, palestrou para professores e alunos da UFRGS, em Porto Alegre, sobre o que seria o eclipse.
O engenheiro enfatizou que 15 anos antes, portanto em 1951, um eclipse era um acontecimento de vulto somente para astrônomos e um pouco para físicos. "Mas hoje (1966) a situação inverteu completamente: basta dizer que 90% dos trabalhos que saem realizados nesse projeto dizem respeito à Física", relatou, conforme publicou o Diário Popular de 11 de novembro.
O eclipse mobilizou 50 cientistas e 800 toneladas de equipamentos, entre telescópios e sondas especiais. Os aparelhos para observação estavam nos sítios de Bagé e Pinheiro Machado. No dia do fenômeno foram utilizados equipamentos de ondas eletromagnéticas e para medir a propagação, além de seis jatos de grande porte da Nasa para a realização de experiências a dez mil metros de altitude. Serviriam como reserva das operações de observação ótica, caso o dia 12 estivesse nublado, uma vez que as aeronaves estariam sobre as nuvens.
Além das experiências óticas e a bordo de aviões, surgiria a terceira atividade, a que despertava a maior curiosidade das pessoas: o lançamento de foguetes. As experiências tiveram por finalidade viabilizar estudos de astronomia, como as relações da superfície turbulenta do Sol com a atmosfera terrestre. E o jornal alertava: "Não será permitida a circulação de veículos no balneário Cassino, a título de passeio".
A recomendação era de que as pessoas levassem frutas para se alimentarem enquanto esperavam para presenciar o acontecimento. Também foram dadas dicas para que chegassem com antecedência ao Cassino, para evitar congestionamento. O acesso se deu pela 4ª Secção da Barra. No dia 12 de novembro de 1966 a manchete do DP era "Tudo pronto em Cassino para a operação" e a informação de que o tempo nublado não afetaria a visibilidade do eclipse. Ainda, orientava para que ninguém esquecesse de observar o eclipse sem a proteção adequada para evitar cegueira.
O outro dia
Dia 13 de novembro de 1966 e o Diário Popular publicava em sua capa: "Milhares de pessoas contemplaram o último eclipse do século 20". A matéria, com o título inusitado "Eclipse-vedete fez cidade ficar de nariz para o ar", contou que os 50 cientistas envolvidos eram oriundos de nove países. Falava também sobre os instrumentos avançados utilizados nos sítios montados em Bagé, Rosário do Sul, Pinheiro Machado, Arroio Grande e Rio Grande.
A matéria relatou, por fim, que o fenômeno não foi total e só tiveram o privilégio de contemplar estrelas à luz do dia os sítios de Bagé e Rosário do Sul. Nos demais sítios o céu ficou acinzentado.
Diretor do Observatório também testemunhou
O diretor do Observatório Astronômico da UFRGS, Claudio Bevilacqua, tinha 14 anos à época e morava em Erechim, onde pôde ver o eclipse parcial. "Eu gostava dessas coisas", comenta. O eclipse solar total de 12 de novembro de 1966 mobilizou o maior número de equipamentos, inclusive seis aviões da Nasa que sobrevoaram a faixa do eclipse, em uma maneira de aumentar o tempo de duração do fenômeno, relembra. Os veículos foram especialmente modificados para o trabalho. Bevilacqua ressalta que o Observatório Astronômico da UFRGS foi fundamental na demarcação das coordenadas geográficas por onde passaria o eclipse.
A astrônoma Daniela Pavani, professora da UFRGS, lembra que os eclipeses solares totais tornam o momento peculiar para a realização de estudos, pois a sombra da lua recai sobre parte da superfície terrestre, por isso nem todo mundo consegue visualizar nos poucos minutos em que ocorre o fenômeno. O episódio de 1966 foi um fato muito marcante, frisa. De acordo com Daniela, em 2019 ocorrerá outro, em Sobral, e marcará os cem anos da Teoria da Relatividade de Einstein. "Naquela época (1966) não havia satélites e o eclipse permitiu estudos que não poderiam ser realizados sem o fenômeno."
Programação no Planetário
Em comemoração aos 44 anos do Planetário da UFRGS e 50 anos do Eclipse Total de 1966, o Programa de Extensão do Departamento de Astronomia/IF-UFRGS Observatório Educativo Itinerante, Observatório Astronômico e Planetário promovem a Semana do Eclipse, que se encerra neste sábado (12), com observação das manchas solares com segurança, das 9h ao meio-dia, no Planetário.
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